quinta-feira, 26 de julho de 2018

Fisiologia do Desespero



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Fisiologia do Desespero é o mais recente trabalho do Ânima Cia de Dança, em cartaz no Instituto Ling como parte do Projeto Ponto de Teatro. Eva Schul dirige Carla Vendramin, Renata de Lélis e Viviane Lencina em coreografias que exploram o dualismo humano/animal. Assumindo a figura do cavalo como uma de suas principais inspirações, no que ele representa de força, erotismo, vocação gregária, harmonia e impulso, o espetáculo aborda questões como opressão, violência, resistência, controle, limite, força e libido. 
 

A proposta é uma investigação profunda do corpo humano quando submetido a situações limites de estresse, que nos provocam reações primitivas. Fica evidente a luta pela sobrevivência na seleção natural do meio e o quanto isso influencia nosso comportamento, equilibrados entre as condições humana e animal.


Algumas coreografias exigem uma resistência física quase insuportável às bailarinas. A exaustão delas chega a ser contagiosa, muitas vezes gerando cansaço também na plateia. Em determinados momentos, pequenos textos didáticos sobre a fisiologia do corpo humano são falados, sublinhando (talvez desnecessariamente) o que já é mostrado literalmente à exaustão em cena.


Certas cenas merecem destaque, como as de DUOS e a cena de SOLO com a balada Menina Veneno, de Ritchie, que se constitui em raro momento descontraído que comunica tanto pela poesia quanto pela critica. Seguindo na linha do humor, em determinado momento são colocados em cima de um grande tapete preto pequenos porquinhos iluminados, aludindo ao comportamento de manada da raça humana. Embora efetiva enquanto opinião, a cena me pareceu fora de contexto enquanto narrativa.  Importante salientar que, por uma característica do teatro do Instituto Ling, nem toda a plateia conseguiu visualizar o que se passava ao nível do solo, prejudicando a total compreensão desta cena.

A exploração da porta existente no fundo do palco como vitrine/moldura iluminada foi bastante interessante. Em algumas cenas, a porta era ocupada pelas bailarinas, criando um contraponto para o que estava ocorrendo na boca de cena. Estabeleci conexão imediata com as vitrines de Amsterdam, onde se faz a exposição ostensiva de corpos femininos no mercado de sexo. Uma das muitas questões da mulher presentes em todo o espetáculo.

Resultado de imagem para a fisiologia do desesperoPor outro lado, as máscaras de animais poderiam ter sido mais exploradas e não correspondem à imagem do programa. A iluminação talvez tenha contribuído com essa sensação, não valorizando as máscaras como nas fotos de divulgação.

O preparo corporal e a qualidade técnica das bailarinas é indiscutível, mas o resultado final do espetáculo me parece fragmentado demais. Fisiologia do Desespero é uma sucessão de experimentos soltos ainda faltando um elo de conexão entre eles. Um fio condutor. As transições lentas de cena reforçam essa ideia, provocando uma quebra de ritmo ao espetáculo. O maior exemplo disso é a cena final, em que uma maquete de cidade é colocada no palco e iluminada de baixo pra cima, projetando sombras na tela de fundo. As silhuetas fazem um link e ao mesmo tempo um fechamento com a primeira cena, quando também se usa o recurso da projeção, desta vez com uma sugestão de mata, evidente alusão à selva de pedra em que habitamos enquanto humanos. Apesar do paralelo que se estabelece, e da clara intenção de estabelecer início e fim de uma narrativa, não creio que funcione.


A opção de não estabelecer uma linha dramática clara abre espaço para que o espectador elabore diferentes interpretações do que está em cena, e esta foi a proposta da direção. As conexões ficam por conta de cada um. A intenção da encenadora Eva Schul é gerar movimento, inquietação, convocando o espectador para um diálogo com as questões levantadas em cena. A questão é: Isso funciona? Algumas vezes, isso além de me cansar, me incomodou um pouco.
 

É inevitável pós-espetáculo a sensação de perplexidade e necessidade de um tempo para que as coisas se (re)acomodem internamente. Fisiologia é um grito desesperado que reverbera e convida à reflexão.
 
 

 


Ana Paula Bardini

 

 

 

 


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