Linhas brancas convergentes demarcam o piso.
Nele, uma cadeira Panthon preta, assim como o restante do palco, é o único objeto cênico. A imaginação é imediatamente despertada pela imagem mental que se forma, tudo é signo. A Alma Imoral -há 12 anos em cartaz- atualmente cumprindo temporada simultânea em São Paulo, no Teatro Eva Hertz e no Rio, na Casa de Cultura Laura Alvin, impressiona pela simplicidade e contundência.
Nele, uma cadeira Panthon preta, assim como o restante do palco, é o único objeto cênico. A imaginação é imediatamente despertada pela imagem mental que se forma, tudo é signo. A Alma Imoral -há 12 anos em cartaz- atualmente cumprindo temporada simultânea em São Paulo, no Teatro Eva Hertz e no Rio, na Casa de Cultura Laura Alvin, impressiona pela simplicidade e contundência.
Para quem leu o livro de Nilton Bonder, complexo
pela simplicidade, duvida de que, enquanto
dramaturgia, seja possível encená-lo. Nele, não existem diálogos, Não existe drama. Como se o grande dilema da própria existência não fosse drama suficiente.E
isso foi exatamente o que despertou o interesse da atriz Clarice Niskier, uma judia/budista, como ela
mesma se define.
Antes do inicio do espetáculo, um bate-papo
informal aproxima o espectador da história que será contada em seguida. Somos convidados a adentrar no mais intimo da
nossa essência sem julgamentos, nos despindo de verdades absolutas. Uma vez aceito o convite, inicia-se a viagem. E que viagem!
O figurino, assim como o cenário, é igualmente minimalista: Um pano preto (de
tecido fluido e grandes proporções) que se transforma em muitas possibilidades
durante o espetáculo. Servindo ora de coberta, ora de manto, saia, vestido,
pano, adorno e assim por diante. Clarice conversa com a nossa alma e sua nudez
serve como metáfora para explicar grandes paradigmas e preceitos básicos da religião
judaica. O texto traça um paralelo entre o corpo e a alma, afirmando que, enquanto
um precisa de tradição para seguir adiante (o corpo) , o outro , ao contrário,
precisa trair, romper, para transgredir (a alma). Disso depende a evolução. Por isso a
alma está acima do bem e do mal, sendo IMORAL. Sim, isso mesmo: imoral e não
imortal, como ela mesma faz questão de ressaltar. Nossos valores e conceitos reforçados ao longo de 2.000
anos, são postos à prova. A riqueza de informações e conhecimento adquiridos durante
os 70 minutos de peça é imensurável. Dela,
saímos verdadeiramente tocados e (inevitavelmente) com a consciência ampliada.
Durante o espetáculo, a atenção plena e o silêncio
na platéia, reverberam internamente em cada um. Gerando um grande eco. Abrindo portas e comportas.
Neste monólogo Clarice nos brinda com uma
interpretação incrível e entrega visceral. Um belíssimo exemplo do “estar a serviço”, que constitui a essência primordial do trabalho
do ator.