quarta-feira, 21 de agosto de 2019

2068


 Distopia Funcional

"2068” da Companhia Máscara EnCena nos defronta (e confronta) com um futuro distópico. Dominar o desconhecido, por uma questão de sobrevivência, sempre foi uma necessidade da raça humana. Talvez isso explique a eterna curiosidade com o futuro. Com aquilo que ainda não é. Com o que estamos construindo e, um dia, será o amanhã- ainda que distópico- resultante de nossas ações e omissões.


A história se passa em um futuro nem tão distante: 49 anos que nos separam de uma realidade cinza e indigesta. De 2019 a 2068, completam-se sete ciclos de sete anos- fazendo referência ao tempo de Saturno, Cronos na mitologia grega, portador da foice castradora. Tal como o mito, a peça evidencia os ciclos. A escolha do titulo seria ao acaso? Ou mesmo, existe o acaso?




Após o sucesso de Imobilhados (2017), o grupo renova a parceria bem-sucedida com a diretora Liane Venturella. Com cuidado e atenção ao detalhe, o espetáculo impressiona pela desesperança e beleza. A trilha sonora original – dando voz aos personagens – é de Caio Amon, um grande acerto na atmosfera melancólica.
 
 


Este novo trabalho segue a linha estética e de pesquisa do grupo, com ênfase no intenso controle corporal - principalmente pela contenção - e pelo uso de máscaras expressivas. Bonecos, em escala humana, ganham vida através dos atores Alexandre Barin, Camila Vergara, Mariana Rosa e Fábio Cuelli- este último responsável também pela criação das máscaras (um espetáculo à parte). Ao contrário de Imobilhados, em que as máscaras ainda tinham um compromisso realista, as de agora são cinzas, sujas, inexpressivas. Sem vida, ainda que vivazes, enganando o olhar mais atento.
 
É tudo tão meticuloso e bem executado que, muitas vezes, é impossível identificar quem é o boneco e quem é o ator.




Um dos momentos mais lindos do espetáculo é a metamorfose da menina em borboleta, simbolizando a libertação de uma condição escravizada e degradante. Executada com extrema técnica e sensibilidade pelos atores, impossivel conter as lágrimas com a beleza da cena. Toca profundamente o humano que habita em nós.

 
 
A poesia se faz presente em todos os momentos, seja pelas imagens construidas, seja pelos sonhos que permitem um sopro de esperança àquelas pessoas desenganadas pela vida. Abandonadas por todos, inclusive por si mesmas. Desprovidas de vontade e privadas de liberdade.

A espera não é alento, mas solução.
A única forma de romper o ciclo infinito: o encontro derradeiro com a foice.
 
 
 
Ana Paula Bardini

 

 

 


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