Début Sarcáustico
A trajetória do Teatro
Sarcáustico é revisitada no palco do Teatro do Instituto Ling. Os atores Daniel
Colin, Guadalupe Casal e Ricardo Zigomático recebem amigos para comemorar a
data e comunicam o encerramento das atividades do grupo. Não é pegadinha. Criadora
de espetáculos premiados na cena gaúcha, como Wonderland e o Que M. Jackson
Encontrou Por lá, Breves Entrevistas Com Homens Hediondos, Viral e Franky/Frankenstein
entre outros, o Sarcáustico chegou ao fim depois de 15 anos de trajetória.
Logo na entrada do teatro, uma
surpresa: o aviso de que os celulares devem permanecer ligados durante todo o
espetáculo. Imediatamente somos adicionados a um grupo de mensagens no WhatsApp
e acompanhamos a conversa dos atores e da produção antes, durante e depois da peça.
Essa conexão reforça a impressão de que somos realmente convidados para a
festa. Já dentro da sala, acompanhamos a montagem do cenário e a organização do
espaço cênico enquanto os atores conversam com a plateia, interagindo com
áudios gravados por eles falando sobre a peça. Tudo muito informal, num clima
de festa de família e suas naturais lavações de roupa suja.
A última direção do Sarcáustico
cabe a Gabriela Poester, cujo principal desafio foi agregar valor a um grupo
com identidade definida e consagrada. Durante os 80 minutos de peça,
acompanhamos uma retrospectiva da história do grupo, em que algumas piadas não
são plenamente compreendidas por todos da plateia, confirmando mais uma vez que
a festa é uma comemoração entre amigos. Praticamente todos se conhecem. O palco
é uma extensão da plateia, criando um clima de entrosamento e de comunhão.
A irreverência e o humor ácido
permeiam as diferentes camadas do espetáculo. Durante todo o tempo, a idéia de
teatro documental se faz presente. A coletiva de imprensa é mais uma
oportunidade- muito bem aproveitada- de passar a limpo a história, entregando
de bandeja a intimidade do grupo. É divertida e confessional à medida em que oferece
ao público a visão individual de cada sarcáustico. A cena final provoca. Invertendo
papéis, os atores saem de cena e os espectadores sobem ao palco, o que nos
lembra de que “Vida é palco, é plateia, é cadeira vazia, é rotina, odisseia, é
sair de uma fria...”.
Debutar é início e fim. Proposital ou não, apesar da descontração, no Début
Sarcáustico a alegria não foi o tom final da noite. Saí do teatro com a
sensação de ter algo atravessado na garganta. Precisei silenciar e refletir
sobre questões que me atravessaram. Pensar que o conceito de felicidade é um
aprendizado diário. Pensar nos ciclos da vida e no tempo das coisas.
Ana Paula Bardini