“O pior analfabeto é o analfabeto político. Ele não ouve, não fala, nem
participa dos acontecimentos políticos.
Ele não sabe que o custo de vida, o preço do feijão, do peixe, da
farinha, do aluguel, do sapato e do remédio dependem das decisões políticas.
O analfabeto político é tão burro que se orgulha e estufa o peito dizendo que odeia a política. Não sabe o imbecil que, da sua ignorância política, nasce a prostituta, o menor abandonado, e o pior de todos os bandidos, que é o político vigarista, pilantra, corrupto e lacaio das empresas nacionais e multinacionais.”
O analfabeto político é tão burro que se orgulha e estufa o peito dizendo que odeia a política. Não sabe o imbecil que, da sua ignorância política, nasce a prostituta, o menor abandonado, e o pior de todos os bandidos, que é o político vigarista, pilantra, corrupto e lacaio das empresas nacionais e multinacionais.”
Bertolt Brecht
Não por acaso, o Analfabeto Político, de Brecht, foi
escolhido para a abertura do espetáculo Homem de Lugar Nenhum, em cartaz no
Instituto Ling, a convite do Ponto de Teatro, integrando também o 14° Festival
Palco Giratório. A peça é assumidamente um ato político e tem como mote principal
o questionamento sobre a possibilidade (ou não) do encontro entre amor e política.
Afinal, será que estas duas vertentes
- aparentemente tão distoantes entre si -conseguem coexistir em harmonia?
Fazer o espectador pensar sobre esta
e outras questões é a aposta da direção de Eduardo Kraemer. Foi dele também a
responsabilidade de “costurar” , em uma narrativa não-linear, os
textos propostos pelos atores Zé Adão Barbosa e Renato Del Campão. Além de
contundentes, os textos são essencialmente densos e provocativos.
Na encenação de Kraemer, o espaço
cênico do Ling é ocupado em profusão, tanto pelos objetos quanto pelos atores e
projeções, exigindo atenção plena durante os 50 minutos de
duração do espetáculo. Muitas vezes, algumas
cenas são sobrepostas por outras, num claro recorte do cotidiano atual:
fragmentado e cheio de informações. O excesso de estimulo, no entanto, não
compromete a compreensão, pois nos remete ao que somos submetidos diariamente.
Esse constante bombardeamento de informações gera a necessidade de saber de
tudo e, mais do que saber, nos manifestar a respeito. É cansativa a exigência
continua de posicionamento- seja ele político ou não. Sim/Não. Gostei/Não
gostei.
As situações conflituosas - por
vezes sem solução- se sucedem e a sensação de “soco no estomago” acompanha o
espectador durante todo o espetáculo.
A vida imita a arte, ou será ao contrário?
Fazendo analogia ao nosso dia a dia, me levou a pensar que a violência (em todas as suas formas) ao mesmo tempo que impele, repele. Na contramão da polarização, a possibilidade de encontro entre amor e política talvez passe pela sensibilidade.
Seja no amor, seja na política, a única possibilidade é o respeito às diferenças.
A vida imita a arte, ou será ao contrário?
Fazendo analogia ao nosso dia a dia, me levou a pensar que a violência (em todas as suas formas) ao mesmo tempo que impele, repele. Na contramão da polarização, a possibilidade de encontro entre amor e política talvez passe pela sensibilidade.
Seja no amor, seja na política, a única possibilidade é o respeito às diferenças.
Assim como o texto de abertura, o encerramento foi igualmente impactante. A entrega – premissa básica do amor - está presente pela primeira vez em cena, e isso comove. Conecta. Comunica. Fazendo um
link, e também um contraponto, entre política e amor.
A plasticidade cênica é de uma beleza e simplicidade
comoventes. Em um trecho de “Esperando Godot” de Samuel Beckett,
os personagens de Zé Adão e Campão encaram o futuro – com incertezas e
esperanças, sonhos e promessas- e resistem, sobretudo à vontade de
desistir.
O teatro, como ferramenta, além de
dar voz ao ator, permite que se faça uma catarse.
Proporciona ao público a possibilidade de se reconhecer em cena. Talvez por isso, Homem de Lugar Nenhum, e sua “realidade real”- que ultrapassa a realidade humana- nos choque tanto.
Pois em alguns momentos, a realidade encenada é ainda mais dura do que a realidade concreta.
Proporciona ao público a possibilidade de se reconhecer em cena. Talvez por isso, Homem de Lugar Nenhum, e sua “realidade real”- que ultrapassa a realidade humana- nos choque tanto.
Pois em alguns momentos, a realidade encenada é ainda mais dura do que a realidade concreta.
Ana Paula Bardini
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